Homero foi o primeiro grande poeta grego que teria vivido há cerca de 3500 anos, consagrou o género épico com as suas grandiosas obras: a Ilíada e a Odisseia. Nada se sabe seguramente da sua existência; mas a crítica moderna inclina-se a crer que ele terá vivido no século VIII a.C., embora sem poder indicar onde nasceu nem confirmar a sua pobreza, cegueira e afã de viajante, caracteres que tradicionalmente lhe têm sido atribuídos. A sua actividade literária baseia-se nas tradições orais, transmitidas de geração em geração, sobre as expedições gregas a Tróia (no Noroeste da Ásia Menor).
A lenda troiana narra o seguinte: Paris, filho de Príamo, rei de Tróia, rapta a bela Helena, esposa de Menelau. Forma-se então, para vingar a afronta, uma confederação grega sob as ordens de Agamémnon, irmão de Menelau. Os chefes gregos (Agamémnon, Menelau, Aquiles, Ajax, Ulisses, Heitor, Eneias e outros) assedeiam Tróia durante dez anos e, após múltiplos episódios heróicos, conquistam-na e incendeiam-na. Ulisses (ou Odisseus) demora dez anos a regressar a sua casa, correndo pelo caminho uma infinidade de aventuras.
Estas duas obras (Ilíada e Odisseia) caracterizam-se pela sua universalidade, pois superam as barreiras do tempo (há mais de vinte e cinco séculos que são lidas com interesse) e do espaço (todos os povos do Ocidente as conhecem e admiram).
Homero é, cronologicamente, o primeiro poeta europeu e um dos mais importantes. A linguagem da Ilíada e da Odisseia, de incomparável beleza, além de estar na base da unidade idiomática grega, expressa as virtudes e os desejos mais nobres: a honra, o patriotismo, o heroísmo, o amor, a amizade, a fidelidade, a hospitalidade, etc.
De acordo com o historiador grego Heródoto, Homero nasceu em torno de 850 a.C. em algum lugar da Jónia, antigo distrito grego da costa ocidental da Anatólia, que hoje constitui a parte asiática da Turquia, mas as cidades de Esmirna e Quio também reivindicavam a honra de terem sido seu berço. Até mesmo as fontes antigas sobre o poeta contêm numerosas contradições, e a única coisa que se sabe com certeza é que os gregos atribuíam a ele a autoria dos dois poemas.
A tradição atribuiu-lhe também a colecção dos 34 Hinos homéricos, dos quais procede a imagem lendária de Homero como poeta cego, mas que depois constatou-se serem de fins do século VII a.C. Os maiores especialistas gregos não admitem que tenha sido Homero o autor de obras como o desaparecido poema Margites ou a paródia épica Batracomiomaquia. As muitas lendas e a escassa confiabilidade dos dados biográficos sobre Homero fizeram com que já no século XVIII muitos questionassem até mesmo a existência do poeta.
As diferenças de tom e estilo entre a Ilíada e a Odisseia levaram alguns críticos a colocar a hipótese de que poderiam ter resultado da recomposição de poemas anteriores, ou de que teriam sido criadas por autores diferentes. Todas essas dúvidas constituem a chamada "questão homérica", e permanecem abertas à discussão. Os pontos em que há maior concordância dos estudiosos são: a Ilíada é anterior à Odisseia; quase com certeza os dois poemas foram compostos no século VIII a.C., cerca de três séculos após os factos narrados; foram originalmente escritos em dialeto jónio, com numerosos elementos eólios - o que confirma a origem jónica de Homero; pertenciam à tradição épica oral, pelo menos no que se refere às técnicas empregadas, já que existem opiniões divergentes quanto ao emprego ou não da escrita pelo autor. A versão na forma escrita, tal como se conhece hoje, teria sido feita em Atenas durante o século VI a.C., se bem que a divisão de cada poema em 24 cantos corresponderia aos eruditos alexandrinos do Período Helenístico. No decorrer desse período teriam sido introduzidas várias interpolações. Com base nesses dados, todos mais ou menos hipotéticos, deduziram-se alguns dados básicos sobre Homero e sua obra.
Tanto a Ilíada como a Odisseia apresentam diversas inconsistências internas, como alusões a técnicas e equipamentos de combate que existiram em épocas diferentes. Tais inconsistências, porém, poderiam ser explicadas pelo facto de o poeta ter utilizado materiais anteriores e por terem sido provavelmente incorporados alguns outros. Quanto à existência de um autor único para a Ilíada, a mais antiga das duas obras, argumenta-se que embora seja evidente a existência de poemas épicos orais anteriores sobre os mesmos temas, não parece haver existido nenhum de extensão sequer aproximada, nem dotado de tal complexidade estrutural. Tal constatação indicaria a existência de um criador individual, que deu uma nova estrutura aos temas tradicionais e integrou-os na sua visão pessoal da realidade. Os que negam a autoria comum de ambas as obras argumentam que a primeira foi composta em tom mais heróico e tradicional e que a segunda tende mais para a ironia e a imaginação. Acrescentam ainda o emprego de um léxico posterior na Odisseia.
Por outro lado, a tese que defende a autoria única baseia-se na afirmação de Aristóteles, de que a Ilíada seria uma obra da juventude de Homero, enquanto a Odisseia teria sido composta na velhice, quando o poeta decidiu redigir a segunda obra como complemento da primeira e ampliação da sua perspectiva. As duas obras têm características comuns absolutamente inovadoras, como a visão antropomórfica dos deuses, a confrontação entre os ideais heróicos e as fraquezas humanas e o desejo de oferecer um reflexo integrador dos ideais e valores da emergente sociedade helénica. Esses argumentos, somados à mestria técnica evidente nos dois poemas, favorecem a conclusão de que o autor da Ilíada, esse grande poeta jónico a quem os gregos chamavam Homero, foi também o autor, ou principal inspirador da Odisseia. (Nomismatike)
Ao mesmo tempo em que reflectiram luminosamente a antiguidade mais remota da civilização grega, os poemas homéricos projectaram-na adiante com tamanha originalidade e riqueza que ela se faria presente nas mais diversas manifestações da arte, da literatura e da civilização do Ocidente. Inúmeros poetas partiram da sua influência, inúmeros artistas impregnaram-se da sua fortuna criativa, do seu colorido e das suas situações, que se tornaram símbolo e síntese de toda a aventura humana na Terra, a ponto de o nome de um poeta cuja existência mesma não se pode provar passar a confundir-se com a própria poesia. Quanto à morte de Homero, a versão mais aceite é de que teria ocorrido numa das ilhas Cíclades.
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